quinta-feira, 23 de março de 2017

Trabalho de Campo em Geografia (5ª aula)

Na última terça-feira foi dia das apresentações das recensões feitas por nós sobre diversos textos sobre trabalho de campo (em geografia). A ordem das apresentações foi: a Carla, a Cíntia, o Tiago, o Luís, o Miguel, a Eliana, eu e o Francisco. Para a próxima aula ficaram as apresentações do José Luís e do Dominik.  

Recensão Crítica:
            O capítulo em apreciação neste trabalho, “Trabajo de Campo”, da autoria de Patrick Bailey, foi publicado em 1981, no livro Didáctica de la Geografia, sendo o nono capítulo do mesmo.
            O capítulo foi traduzido de inglês para espanhol por Eduardo Sierra Valenti, professor de Geografia e História da National High School "Verdaguer" de Barcelona. É também um contribuinte para "Geo-crítica", onde ocupou o número 33-34.
            Patrick Bailey foi um dos melhores e principais educadores geográficos da Grã-Bretanha. Ao longo dos anos, ele fez muito para promover a Geografia como disciplina escolar e para melhorar o ensino da disciplina nas escolas.
            John Mumford Patrick Bailey (mais conhecido pelos seus últimos dois nomes) nasceu em Londres no dia 31 de Dezembro de 1925 e faleceu em Leicester no dia 16 de Julho de 1998. Após ter deixado a escola e passar um tempo na Marinha Real, Patrick Bailey estudou Geografia na Corpus Christi College, Cambridge, 1947-1951 e, posteriormente, na Universidade McGill, em Montreal. A sua carreia profissional foi maioritariamente na Faculdade de Educação da Universidade de Leicester, onde nos últimos anos se dedicou ao ensino de graduação no Departamento de Geografia (1969-1987). Antes de vir para Leicester em 1969, Bailey deu aulas em Norfolk. Em 1997, fui nomeado membro honorário (Honorary Fellowship pela Royal Geographical Society) por suas contribuições à geografia.
            De uma forma introdutória, ao autor faz referência ao papel do trabalho de campo especialmente no caso concreto de geografia, de como é visto e feito o trabalho de campo nas escolas e na universidade, dando ao longo do capítulo vários exemplos de possíveis trabalhos de campo e como devem ser preparados.
            Os principais objectivos do capítulo é mostrar a importância que o trabalho de campo tem na geografia, orientar os professores de como organizar o trabalho de campo (visita de estudo) e explicar alguns métodos de desenvolvimento do trabalho de campo.
            O autor divide o capítulo em 4 partes, onde numa primeira parte o autor faz uma breve introdução sobre o que é e para que serve o trabalho de campo, numa segunda parte coloca os objectivos pedagógicos alcançados com o trabalho de campo, na terceira parte coloca os métodos que são orientações para o desenvolvimento do trabalho de campo, de forma a ajudar novos professores e por fim de uma forma detalhada de 27 passos a organização do trabalho de campo onde devemos planear todo o trabalho de campo previamente “mas mais vale planificar em excesso do que ter de improvisar”.
            Na breve introdução sobre o trabalho de campo o autor diferencia o trabalho de campo com o trabalho de pesquisa, mostra as tendências que as escolas têm para o trabalho de campo; demonstra que o trabalho de campo pode ser uma síntese dos conteúdos leccionados em aula e transmite a importância da organização prévia de todas as saídas.
            Nos objectivos pedagógicos alcançados com o trabalho de campo o autor identifica oito dando exemplos em todos eles. Estes são:
¡  Ensino do vocabulário geográfico;
¡  A experiência de distâncias, inclinações e alturas;
¡  A comparação do terreno com o mapa;
¡  O desenvolvimento e a compreensão das formas de superfície;
¡  Introdução às formas imperfeitas da paisagem;
¡  Compreender as áreas diferenciais e a natureza dos limites;
¡  Introdução de novas ideias;
¡  Interpretação de fotografias aéreas.
Nos métodos de orientação o autor identifica oito:
¡  Ensinar sobre o campo;
¡  Excursões geográficas;
¡  Reconhecimentos gerais no autocarro e a pé;
¡  Ensinar através de questionários;
¡  O uso de questionários da entrevista;
¡  A preparação de visitas a indústrias;
¡  Estudo dos processos;
¡  Verificação das hipóteses e uso de modelos.
Na organização do trabalho de campo o autor refere uma detalhada preparação de vinte e sete etapas desde definir quais os objectivos que se pretendem atingir com este trabalho de campo até pormenores como no próprio dia da saída pedir aos alunos para estares meia hora antes, etc.
       Durante o capítulo o autor vai tocando em pontos fundamentais sobre o trabalho de campo, logo no início afirma que “a geografia não é apenas um corpo de doutrina, mas acima de tudo, um método de estudo. Neste sentido, o trabalho de campo é o melhor e mais imediato método de unir ambos os aspectos na experiência pessoal do aluno e não tem que ser considerado uma actividade extraordinário, mas sim uma parte integrante do trabalho normal das aulas.” (Bailey,1981), ou seja, tal como Graham Butt disse em 2002 “a educação geográfica é afortunada por o trabalho de campo ser ainda considerado como uma componente integral para o desenvolvimento do conhecimento, da compreensão e das capacidades na disciplina” como podemos observar nestas duas afirmações que encontram-se em concordância o trabalho de campo é fundamental na disciplina de geografia.
            Outro aspecto que o autor fala é que "a principal causa da mediocridade do mundo intelectual encontra-se em tudo o que sabe em segunda mão" e os professores estão conscientes que esta afirmação contém uma grande verdade no campo do ensino. A frase de Whitehead implica que o conhecimento tem que basear-se, sempre que possível, na experiência própria. E isso só pode ser adquirido saindo fora da escola” (Bailey,1981), ou seja, mais uma vez mostrando a importância do trabalho de campo, onde os alunos podem observar (experiência própria). Embora aqui o autor diga que só se pode fazer fora da escola e isso nem sempre é verdade, através da janela e até mesmo no recreio os alunos conseguem aprender através da experiência própria.  
            O autor confirma que “tradicionalmente, o trabalho de campo foi limitado em escolas e universidades, em algumas visitas a montanhas ou a fábricas e viagens muito específicas feitas nos feriados ou durante as férias. (…) Mas não é necessariamente assim. O trabalho de campo pode ser feito em qualquer lugar, a qualquer paisagem rural ou urbano, sem se afastar muito da escola.” (Bailey,1981), ou seja, ainda hoje isso acontece nas escolas o trabalho de campo está muito associado a visitas de estudo (saída da área da escola) e no campo da geografia haveria muito para ver na área da escola sem ser necessário grandes deslocações.
            Outro ponto que o autor fala é que “a preparação cuidadosa e detalhada do trabalho de campo é tão importante como em todos os outros domínios do ensino, e mais ainda porque faltam neste campo guias pedagógicos válidos e normalizados, de modo que o professor tem de estudar por conta própria o terreno antes de colocar os seus alunos em contacto com ele”. (Bailey,1981), em 2017 Claudino continua a defender esta ideia, “o trabalho de campo tem, frequentemente, uma relação estreita com a pesquisa documental, designadamente na sua fase de preparação, mas não se reduz à mera ilustração da informação contida em manuais escolares e em outras fontes de informação secundária”, a preparação do trabalho de campo exige um grande trabalho do professor, ele tem de conhecer bem o local que irá visitar com os alunos e se for necessário ir mesmo ao local antes da visita (quando a está a organizar).
            Outra das vantagens do trabalho de campo que o autor refere é que “em qualquer caso, a utilidade do trabalho de campo depende de facto que trabalhar fora da escola e no mesmo campo, os professores e alunos aprendem a conhecer-se melhor. Esse contacto ajuda a superar muitos problemas da turma e muitos professores jovens e inexperientes encontram nele a solução para muitas das suas dificuldades” (Bailey,1981), sete anos depois Claudino continua a defender esta afirmação, “o desenvolvimento das relações entre professores e alunos constitui também um importante aspecto que se observa, normalmente, durante o trabalho de campo”, ou seja, longe das salas de aulas a relação professor-aluno consegue ser melhorada e Bailey dá o exemplo dos professores que no início encontram-se mais à vontade no trabalho de campo.          
            O autor afirma que “a função mais importante do trabalho de campo é a transformação de palavras mortas em experiências vivas, tornando claro para os alunos que as realidades descrevem as palavras. Há que ter em conta que a maioria dos estudantes não têm ideia clara do que significam as palavras e limitam-se a memorizá-las para repetir no momento do exame”. (Bailey,1981) comparando esta afirmação com o “trabalho de campo é aquele realizado pelos alunos fora da sala de aula, em que a aprendizagem é realizada pelo contacto direto” (Boyle, A., Maguire, S., Martin, A., Milsom, C, Nash, R., Rawlinson, S., Turner, A., Wurthmann, S., & Conchie, S., 2007), vemos que ambas estão em conformidade, ou seja, os alunos tendo contacto directo com a realidade no trabalho de campo aprendem muito mais facilmente do que fechados numa sala de aula.
            Bailey explica que “temos de distinguir o "campo de ensino" do "trabalho de campo". No trabalho de campo são os próprios alunos que carregam o peso das actividades. No entanto, o campo de ensino baseia-se na explicação do professor. Ambos são necessários, e não podem existir um sem o outro. O trabalho de campo é feito na maioria em terrenos já conhecidos, enquanto o campo de ensino serve para entrar numa área desconhecida” (Bailey,1981), o autor explica bem a diferença entre trabalho de campo e campo de ensino demonstrando a sua ligação e mostrando que no trabalho de campo o aluno é mais autónomo.
            A próxima afirmação ainda vem ao encontro da anterior, “quando estamos a fazer um passeio/visita, a regra de ouro é não fazer muitos comentários. Um professor entusiasta e bem preparado geralmente cai na armadilha de dizer aos alunos tudo o que sabe, em vez de procurar que sejam eles a descobrir as coisas” (Bailey,1981), ou seja, mais uma vez mostrando que os alunos devem ser independentes na sua aprendizagem no trabalho de campo.
            Ao longo do texto a palavra “zona” é utlizada pelo menos duas vezes para se referir a áreas/lugares, o que cientificamente é incorrecto mas como o texto foi traduzido de inglês para espanhol pode ser erro da tradução (uma vez que em Espanha essa diferença não é muito utilizada):
- “métodos de cultivo que se usan en aquella zona”;
- “Cuando hay que tener una idea general de una zona muy extensa”
            Com este capítulo podemos concluir que o trabalho de campo é fundamental em Geografia, e prova disso são os vários exemplos que o autor vai dando ao longo do texto, os alunos tendo contacto directo com os diversos problemas que são leccionados durante as aulas aprendem mais facilmente e o trabalho de campo pode ser feito na escola e não apenas fora da área da escola (visitas de estudo) como o autor diz, embora que os exemplos dele são todos fora da escola. 

Referências:
BAILEY, Patrick. Didática de la Geografia. Trad. de Eduardo Sierra Valenti. Madrid : Cincel-Kapelusz, 1981, p.161-174
Boyle, A., Maguire, S., Martin, A., Milsom, C, Nash, R., Rawlinson, S., Turner, A., Wurthmann, S., & Conchie, S. (2007). Fieldwork is good: The students’ perception and the affective domain. Journal of Geography in Higher Education, 31(2), 299-317
Claudino, Sérgio (1988). O Trabalho de Campo em Geografia. Apogeo, nº 1, Dezembro, p. 4-7
Butt, G. (2002). Reflective Teaching of Geography 11-18. Continuum Studies in Reflective Practice and Theory. London: Continuum
Dados sobre Patrick Bailey:

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